Suicídio é a maior causa de morte entre policiais no Brasil, PB registra aumento nos casos
A taxa de suicídio entre policiais civis e militares da ativa cresceu 26,2% em 2023 em comparação ao ano anterior e se transformou na maior causa das mortes de policiais no Brasil, superando as que se dão em confrontos, seja durante o serviço ou na folga.
O suicídio entre a categoria é quase oito vezes maior do que entre a população em geral. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 e é a primeira vez que esse fenômeno acontece desde que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública passou a registrar os dados de vitimização de policiais. Na visão de especialistas, os dados apresentados mostram que existem graves problemas estruturais de ordem psicológica nas corporações de segurança pública brasileira e que o Estado brasileiro falha na preservação da saúde mental e proteção da vida dos policiais.
Segundo a professora Marina Rezende Bazon, do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, esse aumento do suicídio entre os policiais é multideterminado e depende de uma série de fatores: “Os policiais estão em constante contato com vários fatores de estresse, como mazelas e contradições sociais, extrema violência, sobrecarga e condições precárias de trabalho, que criam um cenário difícil para esse profissional”.
A natureza da função policial é fonte de estresse e impacta diretamente a saúde mental desses profissionais, principalmente no contexto brasileiro, onde a polícia é considerada muito violenta. De acordo com dados do Ministério da Justiça, foram registradas mais de 6,3 mil mortes por ação de policiais no Brasil entre janeiro e dezembro de 2023, em média, são 17 casos por dia. Essa violência extrema e banalizada, em um contexto de profundas desigualdades sociais, tem grande impacto no psicológico dos servidores de segurança pública, segundo a professora Marina.
Além disso, a professora afirma que a sobrecarga de trabalho é outro fator de estresse. “Os modelos de trabalho, com várias horas de atuação e com horários de folga reduzidos, além de salários, em sua maioria, baixos, obrigam os policiais a fazer horas extras ou bicos. Esse problema afeta principalmente os policiais de menor patente.”
O atendimento a esses profissionais na área de saúde mental segue um procedimento padrão de detectar pessoas em risco de suicídio. Uma vez identificado o risco de suicídio, existem protocolos de tratamento específico a esse profissional, que passam por diversas medidas como, por exemplo, afastamento da função e restrição ao acesso a armas de fogo. “Para aprimorar o tratamento da saúde psicológica dos policiais, seria fundamental criar programas de apoio mental com profissionais capacitados, mas que não fossem conveniados às corporações de segurança pública”, afirma Marina.
A ASPOL acompanha com preocupação os casos de suicídio entre os Policiais Civis da Paraíba e se coloca a disposição dos associados na busca por atendimento psicológico e para uma melhor qualidade de vida.
Vale ressaltar que na Paraíba, além de todos os fatores de stress já citados ainda existe a desvalorização da categoria, que continua recebendo o pior salário do país e não tem uma política de valorização por parte da gestão.